A GUERRA
COLONIAL
(contada pelo meu Tio
Avô João Carlos)
Nos anos 60, rebentou a guerra nas Colónias
Portuguesas em Áfric
O nosso governo decretou que todos
os cidadãos saudáveis eram obrigados a prestar serviço militar.
Um edital na junta de freguesia
indicava quais os mancebos e o local onde deviam ser inspecionados para prestar
o serviço militar. Aptos, lá iam os jovens para um quartel aprender a manejar
armas e fazer preparação física. Aqui, eram escolhidos os melhores, para
integrarem as tropas de elite.
No caso do Exército, havia os Comandos
e os Rangers, na Marinha, os Fuzileiros e na Força Aérea os Pára-Quedistas.
A preparação consistia em longos “crosses”,
muitas aulas, prática de tiro e lançamento de granadas. Após estes cursos, estávamos
preparados para o embarque.
No Cais de Lisboa, navios como o ‘’Niassa’’
e ‘’Uige’’, que foram transformados para esse fim, levaram-nos até África, para
as nossas colónias.
Viagens de sonho... o mar alto
lindo, lindo…
Dentro do navio, tudo era como se
fosse em terra. Levantar cedo, tomar o pequeno almoço, formar, uma breve
palestra e toca a jogar cartas nas salas de navio; almoço, mais tarde formar
novamente, palestra e destroçar para ir jantar e, finalmente, dormir.
Muitos dias, sempre iguais, até
chegar ao local de desembarque. Neste caso, a Guiné, que fica a oito dias de
viagem de navio a partir de Lisboa.
O desembarque era efetuado com
muitos cuidados porque estávamos em zona de guerra. Aqui o cenário é diferente.
A paisagem, a população e o clima. Até o ar que respiramos é diferente, mas
tudo lindo, maravilhoso …
A população que esperava por nós,
como garante da sua segurança, fez questão de receber os soldados com pompa. A
avenida por onde desfilamos estava cheia de gente, bandeiras nacionais bem
erguidas e o chão, imagine-se, coberto de panos muito coloridos e com cores bem
garridas. Muitos gritos e cantares africanos que muito nos comoveram. Bem, mas
não foi para festas que viemos para aqui …
Agora vai uma companhia para aqui,
outra para ali, outra para acolá e toca a andar.
A nossa principal missão era dar
segurança às populações e criar com elas laços de amizade para que elas
tivessem confiança em nós.
Era para nós mais seguro ter os indígenas do
nosso lado mas, de vez em quando, lá vinha a guerra.
Quando era dado alerta de ataque a “Tabancas”
(grupo de palhotas) e, noutros casos, em que o inimigo tomava conta de aldeias
maiores, tínhamos que lá ir desalojá-los. Claro que isto implicava usar a força
das armas. Tiros de um lado, tiros do outro, lá acabava por morrer sempre
alguém. Do nosso lado tínhamos mais meios para socorrer os feridos do que do
outro. Havia helicópteros que nos prestavam logo apoio. Era esta a rotina a que
nos habituamos durante meses e meses…
Nas horas em que o inimigo nos dava
“folga”, curtíamos o clima maravilhoso que África tem. Muito calor. Mas quando
há chuvas elas são fortes e quando há trovoada é de meter medo.
As aldeias, as paisagens, os rios,
os pássaros, e os macacos, são de nos deixar pasmados. No que respeita a
animais havia na Guiné o macaco (várias raças), o chimpazé, poucos tigres e
algumas “pacaças” (da espécie das gazelas).
Na agricultura, trabalhavam as
mulheres, enquanto os homens fumavam e abrigavam-se do sol debaixo das árvores.
Havia arroz, amendoim, mangas, laranja e pouco mais. As mulheres transportavam
os filhos às costas.
Entretanto a guerra não parava. Os
terroristas iam evoluindo e atacavam algumas cidades pela calada da noite. Dão
mais trabalho aos nossos soldados que têm que dar segurança às populações durante a noite.
Vai
passando o tempo…
Os soldados, conforme os meses iam
passando, preparavam o seu regresso a casa. Iam comprando recordações como
tapetes, rádios, máquinas fotográficas, alguns pássaros e até macacos. Estavam
todos ansiosos pelo regresso.
Ordem de embarque. No cais da Guiné
fazem-se as ultimas despedidas aos amigos que lá deixamos. As lágrimas
misturam-se, são as de alegria pelo regresso a casa e são aquelas pelos que,
embora de outra cor, lutaram ao nosso lado e sofreram tanto como nós.
O corpo treme, a voz começa a ficar
rouca pelos cânticos e vivas que se trocam com a população. O navio enche, há
um apito longo, é o sinal que o navio vai largar.
E África fica para trás,
desaparecendo no horizonte… dando lugar às recordações.
Mais
oito dias de viagem, agora como “turistas”, comer, dormir e jogar às cartas.
Até que enfim, entramos no Tejo. O
navio atraca. Os soldados atiram-se aos seus familiares. Há lágrimas por todo o
lado, dos soldados e seus familiares. Felizes porque regressaram e felizes
porque cumpriram o seu dever: SERVIR A
PÁTRIA
Trabalho realizado por Luzia Lima, 6ºA