O Francisco, do 6ºA, fez um muito interessante trabalho de pesquisa sobre a história dos correios na sua localidade: Santa Maria da Feira. Para tal, entrevistou familiares seus, que lhe forneceram informações curiosas sobre este importante meio de comunicação.
O correio contado por quem assistiu ao seu início...
A primeira estação de correios da Vila da Feira
Resolvi
entrevistar um familiar próximo, cuja mãe e avó desenvolveram atividades
ligadas aos correios, desde final do Séc. XIX até meados do Séc. XX, aqui em Santa Maria da Feira
(à data, Vila da Feira). Dessa entrevista fiquei com algumas informações
fantásticas que vou partilhar.
O
sonho e a necessidade das pessoas em comunicarem entre si são muito antigos.
Ainda
hoje, podemos assistir nos filmes de índios e cowboys, a comunicação que faziam,
utilizando sinais de fumo.
Com
o aparecimento da escola, aumentou substancialmente o número de pessoas a saber
escrever. Nasceu mais uma necessidade: o das pessoas comunicar entre si por
intermédio da escrita. Surgiu então a carta escrita dirigida a familiares e
amigos, estivessem onde estivessem. Mas não bastava escrever a carta. Como
fazer para ela chegar ao destinatário? Como pagar esse serviço?
Foi
assim que, em 1859, foi criada por vontade Régia (Ministro Fontes Pereira de
Melo) uma “diligência” (carruagem puxada por 4/6 possantes cavalos) que fazia o
transporte de pessoas e das “cartas” entre Lisboa e Porto. Este trajeto
demorava 34 horas! Neste percurso existia 23 mudas de cavalos, e para tal foram
criados 23 edifícios compostos por estábulos para os cavalos, dois ou três
quartos para descanso dos viajantes e local onde eram servidas refeições,
geralmente compostas por sopa e pão.
Neste
local, os cavalos eram mudados (os cansados da viagem por cavalos frescos), e
nestas mudas era largada a correspondência destinada àquela enorme área
geográfica. Daí estas primeiras estações terem o nome de Malapostas
(Mala-postas).
Assim,
à Vila da Feira de então foi atribuída uma Malaposta, criada junto à Estrada
Romana, também denominada Estrada Real, e mais tarde junto da estrada que
ligava Porto-Lisboa, também chamada Estrada Nacional nº1.
A
colocação deste equipamento, para a época, inovador, veio mais tarde a dar o
nome ao lo
cal, que assim se passou a chamar lugar da Malaposta-Sanfins-Vila da
Feira.
O
familiar que entrevistei contou-me:
“A
minha avó, durante anos e anos, ia à Malaposta buscar o correio que se
destinava a todo o norte do nosso Concelho e levava-o numa canastra para
entregar nas freguesias. Era uma autêntica epopeia, pois os caminhos eram
fracos, e pontes, poucas ou nenhumas. O sacrifício era enorme para estas recoveiras.
Segundo ela me contou, levava o correio desde a Malaposta até à freguesia de
Canedo (quase 20Km) a pé, mal alimentada e sem meios de comunicação. Chegada
ali, o correio, já dividido em pacotes, era entregue ao Padre ou ao Professor,
ou não fossem eles as únicas ou quase únicas pessoas a saberem ler. Contava-me
ela que o Padre, nas escadas da Igreja, lia o nome e fazia a chamada a entrega
da carta. Muitas vezes era-lhe solicitado que a lesse...o que ele fazia na
frente das pessoas presentes”.
No
início do Séc. XX, as diligências deram lugar ao transporte ferroviário,
passando os comboios a desempenhar um papel importante nas comunicações, no
transporte de passageiros, mercadorias e do próprio correio, sendo muito mais
rápido que o cavalo. Assim, foram adicionadas aos comboios as chamadas
“ambulâncias postais”, carruagens nas quais trabalhavam várias pessoas que
tinham a função de distribuir “as cartas” pelas localidades. Estas cartas eram
entregues nas estações onde parava o comboio.
É
nesta fase que entra a mãe do meu familiar na função de recoveira. Tinha ela
como missão transportar os sacos do correio desde a estação dos CTT (Correios Telégrafos
e Telefones) até à estação do caminho de ferro (então, Vale do Vouga) para aí
serem introduzidos nas citadas “ambulâncias” e o seu conteúdo ser distribuído
conforme os destinos. “A minha mãe fez esse trabalho desde 1952 até ao
aparecimento do transporte rodoviário”- disse o meu familiar. Com o
aparecimento dos veículos de transporte motorizado, foram alterados os hábitos
até esta altura baseados no “homem”.
Esta fotografia mostra-nos a primeira estação de correios da Vila da Feira,
situada no Rossio. Mais tarde, em 2 de Março de 1958, foi inaugurada a nova
Estação dos Correios, no local onde ainda hoje se encontra.
Não
podemos esquecer o papel que as caixas de correio ou os marcos postais
distribuídos pelas vilas e aldeias tiveram na recolha de cartas, evitando assim
que as pessoas se deslocassem às estações dos CTT (Fig. 3). Estas pequenas
caixas retangulares ou cilíndricas de cor vermelha que ainda hoje encontramos
nas paredes de algumas casas de comércio ou na confluência de ruas prestaram e
prestam um relevante serviço público.
Nesta
altura, os carteiros, homens encarregues de fazer chegar as cartas às pessoas,
usavam uma farda tipo ganga clara, e estavam sinalizados, para além da farda,
com um distintivo onde sobressaía um “homem montado num cavalo com uma corneta
na mão”. Estes homens tinham como tarefa calcorrear os caminhos, carregados com
uma mala de cabedal castanha, quer estivesse chuva, frio, calor ou neve, a
missão tinha que ser cumprida. Quando o carteiro chegava a um lugar ou aldeia,
para não andar de casa em casa, tarefa impossível para o trabalho e tempo que
tinha, tocava uma corneta de metal amarelo e as pessoas que andavam nas suas tarefas
vinham ao encontro do carteiro que então distribuía as cartas.
Este
serviço era e é pago com a utilização do selo. O primeiro selo português foi
lançado em 1853 (sem a menção de qualquer importância) e tinha a efígie da
Rainha Dª Maria II.
Trabalho de: Francisco Tavares (6ºA)